Cinema | Não! Não Olhe!, de Jordan Peele

Nope (EUA, Japão, 2022). Com Daniel Kaluuya, Keke Palmer, Brandon Perea, Michael Wincott, Steven Yeun e Keith David.

Rodrigo Torres
3 min readAug 26, 2022

Não! Não Olhe! (Nope, 2022) é um filme para a posteridade, né. Um filme para se pensar a respeito não somente por ser muito metafórico, para se preencher todos os seus significados (esse exercício sempre será divertido), mas por algo maior: pela forma como Jordan Peele aqui faz cinema. Faz cinemas.

Mais que envolvente, é encantadora a forma como Peele sincretiza vários gêneros e cinematografias (a chuva de sangue e o motoqueiro sci-fi bebem do Kléber Mendonça Filho, vamo combinar?!) ao fazer seu próprio filme. Sempre histórias muito autorais, mas sempre convidando o espectador a preencher suas lacunas e sempre prestando reverência ao cinema e sua história.

Seu filme menos panfletário ainda o é, haja vista seu caubói e sua heroína, ambos negros. Porém, Peele em Nope comunica suas pautas com mais sutileza, ironia fina e sofisticação. Para dar um enfoque maior ao cinema como base. Seja o western fundador do cinema americano, seja o horror que é base de seu cinema, daí o mergulho no que há de mais lovecraftiano.

Então, vemos um filme em que a tensão narrativa explora (por meio de elipses, saltos temporais e um mal semi-invisível) o desconhecido ao mesmo tempo em que usa e abusa das possibilidades do audiovisual; e do horror. Ora o claro, ora o escuro. Da casa mal assombrada a terrenos abertos ensolarados. Ou um chimpanzé ou um OVNI. No caso, um ser que se alimenta e se transforma em várias formas — como Hollywood, seu vilão temático.

Não! Não Olhe é, assim, a obra cinematográfica mais espetacular de Jordan Peele. Um deleite. E condizente com sua crítica a respeito da indústria: apesar de deter também o ego do artista e de fazer um filme tão seu, tão autoral e no qual tanto se diverte, Peele, no fim das contas, entrega sua obra de mão beijada para o espectador construir, a partir de seu olhar, um filme só seu, já que todo aberto à sua própria interpretação.

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Rodrigo Torres

Críticas de cinema e TV. Pitacos eventuais sobre esportes, política e o que mais der na telha.