Cinema | Ânsia de Amar, de Mike Nichols

Carnal Knowledge (EUA, 1971). Com Jack Nicholson, Candice Bergen, Art Garfunkel, Ann-Margret e Rita Moreno.

Rodrigo Torres
2 min readMar 30, 2023

Se você gosta de Closer — Perto Demais (Closer, 2004), veja o que Mike Nichols fez 30 anos antes. Em Ânsia de Amar (Carnal Knowledge, 1971), o diretor, recém-saído do teatro, também adapta uma peça de texto muito ousado — e, nesse caso, um texto muito à frente do seu tempo.

Closer da Nova Hollywood

Tanto é assim que o personagem de Jack Nicholson parece pai dessa geração de moleques misóginos que contaminaram a internet nos últimos anos (os incels, MGTOWs, red pills, bebedores de Campari e outros cabaços). E as mulheres do filme vivem relacionamentos tóxicos que representam não só a sua época, mas os dias de hoje também.

A atualidade de Ânsia de Amar é chocante.

Mas não é só isso. Esse conteúdo é formalizado com uma dramaturgia irrepreensível — nos diálogos, nas atuações e no modo como Nichols opera esse roteiro focado em texto. Não há malabarismo, mas há pleno proveito da linguagem cinematográfica. Vemos, inclusive, a mobilidade característica da Nova Hollywood em sua mise-en-scène.

Aliás, Ânsia de Amar é um filho legítimo do movimento. Uma das joias que servem de epítome da Nova Hollywood, demonstrando perfeitamente o culhão que os autores dessa geração tiveram na escolha e execução de seus projetos.

Ânsia de Amar não soa como um filme que tirou o seu autor da zona de conforto quando pensamos que é o Mike Nichols adaptando uma peça. Mas foi um dos roteiros filmados mais afrontosos de seu tempo (a ponto de ter sido censurado e motivado prisões) e qualquer outro, mesmo para o nosso parâmetro zillennial. Isso é Nova Hollywood.

★★★★☆

Texto originalmente publicado no Letterboxd.

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Rodrigo Torres

Críticas de cinema e TV. Pitacos eventuais sobre esportes, política e o que mais der na telha.