Política | Moro e Dallagnol contra Lula: a ponta do icerberg
Vaza Jato e breves reflexões sobre justiça, política e sociedade.
Imagine que você é acusado de um crime e o juiz responsável por julgar o caso atua ao lado do promotor como parte acusatória. Que eles trocam informações e revelam que nem eles mesmos confiam nas provas que têm contra o réu, mas mesmo assim o condenam. Essa é a denúncia contida na matéria Chats privados revelam colaboração proibida de Moro com Deltan Dallagnol, do The Intercept Brasil.
Após vencer o Prêmio Pulitzer com o Caso Snowden, Glenn Greenwald (ao lado de Rafael Moro Martins e Alexandre de Santi) realiza agora um dos trabalhos de jornalismo investigativo mais importantes da história do Brasil. Pois é parte de um todo. Essa comprovação de que a Justiça julga de forma injusta até nas mais altas esferas públicas são a ponta do iceberg de todo um sistema de perpetuação de injustiças de classe, de raça, de gênero, de credo, de toda sorte de preconceitos. Os casos de truculência judiciária são cotidianos, e nada acontece. Pelo contrário: o povo aplaude. Nunca faltou tanto a tal da empatia.
Por ciência desse estado de coisas e de tudo que envolveu a condenação do Lula, esse escândalo não me surpreende. Todo cidadão minimamente informado e comprometido em julgar os fatos com isenção, sensatez e olhar crítico já sabiam que essas duas figuras atuaram como peças políticas. Seja pela ridícula apresentação no Power Point de Deltan Dallagnol, seja pela nomeação de Sérgio Moro como ministro — dentre muitas outras coisas, muitas!
Porém, infelizmente, a imensa maioria não são como, por exemplo, a nata dos meus amigos antipetistas que não se deixaram contaminar pelo veneno ideológico e nunca confiaram nesses dois. Não precisa gostar do PT para perceber a gravidade dessa trama escusa entre Moro e Dallagnol para a prisão (no meu ponto de vista, mais do que nunca, injusta) do Lula.
“As pessoas já não acreditam nos fatos”, diz Noam Chomsky, atribuindo isso à descrença das pessoas nas instituições. Eu diria que isso monta um círculo vicioso: quanto menos acreditarmos nos fatos, mais coniventes seremos com a debilidade das instituições. O que só contribui para a nossa jovem democracia se tornar, a cada dia, mais frágil.
Sejamos críticos, meus amigos. Não tenhamos, nunca, medo de mudar nossas opiniões. Um mundo mais honesto é um mundo melhor. O início de um círculo virtuoso.