Paulo Freire: 100 anos do homem que ousou transformar a educação popular

“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”

Rodrigo Torres
3 min readSep 19, 2021

Nascia há 100 anos um dos grandes brasileiros de todos os tempos. Um mestre que ensinou muito, mas muito mais que um método de alfabetização para adultos. Paulo Freire é sinônimo de dignidade e empatia. Acreditava na educação como forma de liberdade. Libertação.

Sua principal contribuição, em minha opinião, foi seu estímulo ao pensamento crítico de todos, focando nos mais pobres. Quem pensa e questiona não se permite escravizar intelectualmente. Não se deixa levar por falsos mitos. Por isso ele é tão perseguido. Sempre com mentiras.

Recomendo o podcast História em Meia Hora para se ter uma boa ideia, rapidinho, de sua linda biografia. E indico também dois textos publicados hoje em grandes veículos do país: o G1, que lista 6 contribuições atemporais do educador (uma delas é o combate às fake news, veja só); e a Folha, com um relato de uma aprendiz do mestre.

A cidade de Angicos virou sinônimo de educação popular quando Paulo Freire colocou seu método em prática e alfabetizou 300 adultos em 40 horas em abril de 1963.

Eu adoro relatos assim, pessoais. Dão uma perspectiva mais humana às histórias. Doutora em educação pela USP, Dagmar Zibas conta que foi secretária de Paulo Freire por cinco anos, e como essa experiência foi exemplar. Ela lembra que o educador recebia, todo mês, centenas de cartas de intelectuais, estudantes e universidades do mundo inteiro. E que ficava perplexa com a simplicidade e escuta de Freire com qualquer pessoa.

Dagmar depois se questiona “por que um professor, armado apenas de giz e de palavras que expressavam um pensamento profundamente humanista e com evidente influência cristã, incomodava tanto o governo militar”. Ela mesma responde:

“Um educador, que ajude o aluno a compreender-se como protagonista de sua própria história, da história de sua comunidade e de seu país, será sempre considerado um perigo por quem pretende calar a voz daqueles que nunca tiveram vez nas dinâmicas de poder do Estado e da sociedade.”

A educação utilitarista, essa que aprisiona, persiste nas escolas do país. Justamente porque, ao contrário do que alguns dizem, o método freiriano nunca foi aplicado em larga escala por aqui. O “Patrono da Educação Brasileira” nunca recebeu o devido valor no Brasil — infelizmente. Mas, parafraseando Dagmar, o vigor de suas ideias prevalece. Paulo Freire é inspiração para todo educador que acreditar na força de “uma educação humanista, inclusiva, e, portanto, emancipadora”.

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Rodrigo Torres

Críticas de cinema e TV. Pitacos eventuais sobre esportes, política e o que mais der na telha.