Política | Paulo Guedes justifica dólar alto com sua principal característica: ódio aos pobres

“Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia… Vai passear ali no Nordeste.”

Rodrigo Torres
3 min readFeb 13, 2020

Toda vez que Paulo Guedes abre a boca, lembro dos amigos “liberais” e economistas que, à época das últimas eleições, diziam que esse sujeito é preparado.

Assim ignorando suas péssimas entrevistas, sua incapacidade de justificar seus números (como o trilhão que nunca veio e nunca virá) e o fato de vir de uma escola política econômica defasada em 30 anos.

Hoje vemos que a visão de mundo desse rapa de tacho da escola chilena é defasada em muito mais tempo. Uns 150 anos! Mentalidade escravista.

“O câmbio não está nervoso, mudou. Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada. Pera aí. Vai passear em Foz do Iguaçu, vai passear ali no Nordeste, está cheio de praia bonita. Vai para Cachoeiro do Itapemirim, vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu, vai passear o Brasil, vai conhecer o Brasil. Está cheio de coisa bonita para ver.”

Guedes odeia pobre, odeia muito!

Guedes diz que o pobre é pobre porque não poupa (“consome tudo”), e que o rico é rico porque poupa e “capitaliza seus recursos”. Inacreditável!

Guedes atribui ao pobre as agressões ao meio ambiente que são perpetradas pelas indústrias e pelos latifundiários. E ofende a inteligência de quem sabe que Bolsonaro apoia o desmatamento ilegal promovido por essas pessoas e entidades — que são ricas, muito ricas.

Guedes chama servidor público de parasita por causa de sua estabilidade, um direito que garante o bom funcionamento do Estado ao, dentre outras coisas, permitir que esses servidores cumpram o trabalho de fiscalizar gente como o próprio Guedes sem correr o risco de perder o emprego.

Guedes chama trabalhador de parasita sendo ele um rentista, alguém que ganha dinheiro sem trabalhar.

Guedes propõe uma série de reformas que asfixiam o pobre, e somente o pobre, enquanto os privilégios das elites seguem intocados e aumenta o rombo das previdências mais deficitárias (de juízes a militares).

Guedes faz coro com os Bolsonaro e insinua AI-5 se o cidadão gozar de seu direito de protestar contra as medidas “antipovo” que ele propõe.

Guedes detesta a democracia.

Guedes, “do alto” de sua sofrível articulação argumentativa, inventou que domésticas viajam à Disney (infelizmente, não) para justificar a alta do dólar em seu governo.

Guedes ataca o pobre, mais uma vez, com uma mentira para defender o que antes, sob governos de centro-esquerda, acusava como sendo um problema.

Guedes ataca também quem de fato usufruía do prazer de viajar à Disney: a mesma classe média que votou nele.

Guedes é o Caco Antibes da vida real. Logo, sem a graça do personagem da ficção — uma sátira ao que há de mais primitivo no rico.

“Caco Antibes é um personagem psicótico da ficção, que representa o que há de pior na elite brasileira. Ser comparado a ele deveria ser uma vergonha pro ministro. Uma vergonha!”, disse Miguel Falabella, autor do personagem para a comédia Sai de Baixo.

Guedes é péssimo nas entrevistas porque é despreparado e porque não tem vergonha de admitir que governa baseado no que há de pior dentro de si: ódio aos pobres.

Guedes não tem vergonha.

Guedes é uma vergonha.

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Rodrigo Torres

Crítico de cinema, membro da Abraccine. Letrólogo e jornalista formado em Comunicação e UX. Amo artes, esportes, geopolítica e todo tipo de papo de bar.