Política | PIBinho do Guedes e o neoliberalismo privatizador
“Após PIB fraco, mercado aposta em privatizações para país retomar investimentos”, respondeu O Globo ao crescimento pífio de 1,1% da economia no primeiro ano de Governo Bolsonaro. Essa é uma resposta à resposta do jornal.
O PIB não foi “fraco”, foi ridículo. “Decepcionante”, disse Eliane Cantanhêde, agora, na Globo News. Eu diria que foi bem previsível. Pois Paulo Guedes é um “Superministro” da Economia medíocre, ou mal-intencionado, talvez os dois. Austeridade não gera expansão, gera contração. Nenhum país continental cresce sem investimento em um momento de crise. Os maiores economistas do mundo declaram isso (que é, acima de tudo, lógico) todos os dias nos grandes veículos. Mas tem aqueles que vêm manipulando a opinião pública brasileira em torno de seus interesses financeiros particulares e em detrimento do que é melhor para o povo. Vou usar um nome fictício para eles: neoliberais.
Segundo esses neoliberais brasileiros, o Estado deve cortar “gastos” e repassar esses custos para a iniciativa privada. Sim, eles nos fazem de burros. Como pode algo ser (sempre!) ruim para o Estado e bom para os empresários? Por isso eles distorcem o real significado das palavras: o que seria investimento para a iniciativa privada vira gasto quando feito pelo Estado, para a população, para o seu bem, para o nosso bem. O neoliberal brasileiro manipula o vocabulário para manipular a narrativa.
A CEDAE é um bom exemplo dessa manipulação sórdida. Uma empresa estatal que oferece um excelente serviço a custo baixo e faturou R$ 832 milhões em 2018. Ótimo para a população. Mas péssimo para o governador Wilson Witzel. Que, por interesses próprios que cabem ao Judiciário investigar, sucateou a Cedae ao demitir seus profissionais responsáveis pelo tratamento da água. Resultado: água contaminada comprometendo a saúde de milhões de pessoas (um grande amigo entre elas). Solução: vender esse patrimônio fluminense à iniciativa privada — que comprará a empresa a preço de banana e oferecerá o mesmo serviço a um preço muito mais caro para a população. Quem ganhará com isso? Um neoliberal, eu garanto.
O grande mal da polarização virulenta que Wilson Witzel, Jair Bolsonaro e seus seguidores alimentam é, justamente, impedir esse tipo de discussão e reflexão; impedir que as pessoas entendam o mal que eles próprios fazem aos seus próprios eleitores. Isso que eles cativam no eleitorado tem um nome: dissonância cognitiva.
Segue um exemplo bem-sucedido disso no Brasil desde 2013 pelo menos: “O PT é ruim e o PT é de esquerda, então a esquerda é ruim e tudo que ela combate é bom.” A esquerda, segundo essa polarização tacanha, sempre combaterá as privatizações. Mas você, que está revoltado com a quebra da economia do país durante o governo do PT e se tornou um radical antiesquerdista (e anticomunista!), defenderá cegamente o que a direita defende, como a privatização da CEDAE — e assim você estará defendendo algo que é ruim pra você mesmo. Isso é a dissonância cognitiva.
Essa estratégia não é “privilégio” do Brasil, tampouco um mal contemporâneo. Mas eu vejo esse neoliberalismo tupiniquim (o mesmo parasita que tornou Bolsonaro e sua extrema-direita palatáveis para o mercado) provocar como nunca essa dissonância cognitiva no brasileiro. Um plano infame, que explora conscientemente o problema histórico de formação e leitura da população — presente até em pessoas que tiveram acesso à escola. “A crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto.” Entendeu?